quinta-feira, 1 de abril de 2010



Folias reestréia NUNZIO em curtíssima temporada

de 27 de março a 02 de maio
sábados às 21h e domingos às 20 h na sede da Cia do Feijão.

NUNZIO
De Spiro Scimone
Tradução de Jorge Silva Melo
Direção e Adaptação de Danilo Grangheia


Para onde ir?
Podemos dizer que essa pergunta foi a que mais nos acompanhou no processo de ensaios do “Nunzio”. Não somente no que diz respeito aos procedimentos do nosso ofício mas, principalmente, na extensão dos significados contidos na obra de Spiro Scimone. Foi exatamente aí, quando abraçamos de fato essa dúvida, que passamos a identificar com mais clareza o tamanho das nossas distâncias. “Nunzio” fala essencialmente sobre essas distâncias, distâncias que foram também gradativamente construídas tanto no plano afetivo quanto no plano geográfico e, como não poderia ser diferente, evolui para uma tentativa por vezes inconsciente de re-aproximação.
A peça foi originalmente escrita em dialeto de Messina; mas tanto no dialeto quanto na língua nacional o que se pretende, além da perda iminente da linguagem, é a descrição de um mesmo território...um lugar confinado e restrito ao qual chegam apenas “sinais” de um exterior.

Uma casa móvel e dois amigos.
Nunzio é um trabalhador da indústria química, debilitado e crédulo. Pino é o seu “home mate”, amigo que viaja constantemente e, pelo que tudo indica, um prestador de serviços ilícitos. Dois amigos imigrantes que vivem numa casa móvel que só ganha vida conforme a região e necessidade.
São esses os elementos /habitantes dessa tal “terra de ninguém”. Personagens que nada tem a oferecer além do que são. O que pode florescer na necessidade de não estar só? Talvez a solidariedade? Talvez o amor? Talvez o ciúme? A dependência, a chantagem, o medo, a astúcia???
Como aquele conto do Cortázar em que o personagem Gómez, um homem apagado e modesto, resolve comprar um metro quadrado de um terreno (não por gosto mas por ser tudo que podia gastar) no meio de dois grandes hectares. Todos perguntavam para que poderia servir aquele pequeno pedaço de terra. Gómez respondera: “(...) Os senhores parecem ignorar que a propriedade de um terreno se estende da superfície até o centro da Terra. (...)”.
Gómez, pela boa intuição ou astúcia, talvez tenha abarcado um ou dois barris de petróleo.
Já Nunzio e Pino, os dois amigos que também dividem o mesmo metro quadrado, estão somente ligados pela história de um lugar que possivelmente não existe mais. No entanto, essa idéia acaba virando o motivo dos possíveis confrontos implícitos entre os dois amigos...por um lado a tradição que se perde substancialmente e por outro,a tentativa de se criar um novo mundo. A partir daí o que se instala no cotidiano dessas duas figuras é um adiamento preenchido de silêncios e diálogos truncados, um vazio que sutilmente vai corroendo os dias e criando, assim, um embate subterrâneo de tensões que se traduz em cena em momentos tragicômicos de grande humanidade.

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